Karnal, Kátia Fonseca e Paulo Rowlands unem música, poesia e consciência pelos Direitos da Mulher em evento do GGBS

event_noteAtualizado em: 08/03/2017


Celebra-se o Dia Internacional da Mulher neste 8 de março e, apesar de muitas conquistas, muito tem que ser feito ainda para que as mulheres sejam tratadas como deveriam na sociedade.

Esta triste realidade foi ratificada no evento organizado pelo Grupo Gestor de Benefícios Sociais (GGBS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nessa terça-feira, dia 7 de março, no Auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM).

No evento “Alegria de Ser Mulher”, o GGBS viabilizou uma palestra com o historiador Leandro Karnal, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e um show musical de Katia Fonseca e Paulo Rowlands em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. Uma mistura de poesia, música e muita reflexão sobre os Direitos da Mulher a serem ainda reconhecidos.


Música e Poesia
Depois da abertura oficial, teve início a apresentação lítero-musical:  "Alguém Cantando..." , com a cantora e jornalista Katia Fonseca, acompanhada pelo maestro Paulo Rowlands.

Em um clima de romantismo, a dupla deu início às apresentações musicais. No repertório: “Alguém Cantando” (Caetano Veloso); “Lua Branca” (Chiquinha Gonzaga); “Je ne Regrette Rien” (Edith Piaf); “Um Vestifo y um Amor” (Fito Páez); “Porque Te Vas” (José Luis Perale); “Como Nossos Pais” (Belchior); e “Tudo que For Leve” (Alice Caymmi). 

Na sequência, Kátia declamou poesias de Fernando Pessoa, Alphonsus Guimarães, Sophia de Mello Breyner Andresen e uma poesia de sua autoria.
 

Violência contra a Mulher
Após a apresentação cultural, o historiador Leandro Karnal deu início à palestra e apresentou dados da Secretaria Especial de Política para as Mulheres, colhidos pela Fundação Perseo Abramo, mostrando que atualmente uma mulher é espancada no Brasil a cada 15 segundos. Revelam também que 64,9% das agressões são diárias e que 63,2% desse tipo de violência são de conjugues.

Outros números divulgados pela Mídia também preocupam. Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que a cada hora e meia uma mulher é assassinada no Brasil. O número de feminicídios (homicídios de mulheres) no Estado de São Paulo em janeiro deste ano foi 120% maior que o registrado no mesmo mês de 2013. Os registros de estupro no mesmo mês também saltaram 96%, passando de 26 casos em 2013 para 51 este ano.

Karnal disse que essas estatísticas são absurdas e que a violência contra a mulher deve ser maior, pois não representam a real situação porque nem todas as agressões são contabilizadas pelo Poder Público. “Estes números são levantamentos de registros feitos em Delegacias e sabe-se que muitas mulheres não fazem as denúncias”, revelou.


O historiador iniciou sua palestra falando de patriarcalismo, que estabelece a supremacia do homem nas relações sociais, e sobre misoginia, que é a repulsa, desprezo ou ódio contra as mulheres. Karnal lembrou que esta forma de aversão mórbida e patológica ao sexo feminino está diretamente relacionada com a violência que é praticada contra a mulher.

Pensamentos misóginos que interferem até hoje na cultura humana foram lembrados pelo historiador. Entre os quais:  “A mulher, por natureza, deve obedecer”; “Os homens são, naturalmente, indiferentes uns aos outros. As mulheres são, naturalmente, inimigas”; comentou Karnal.

O historiador destacou que até as leis que defendem as mulheres apresentam aspectos de misoginia. “Temas ligados ao corpo feminino, como o aborto, foram legislados por homens, e pior, homens com voto formal de celibato”, disse Karnal.
 

Os costumes e a cultura que prevalece no planeta, segundo Karnal, carregam ainda muitos preconceitos. “A Bíblia foi escrita por homens. Deus tem identidade masculina na língua criada por homens. Suas imagens são sempre do macho da espécie. Todo teólogo dirá que Deus não tem gênero ou forma e, sendo assim, nada impede que seja representado com seios, tão equivocados na iconografia quanto a barba”, afirmou o historiador.

Para Karnal o pensamento machista é evidente e considerado “algo normal” até entre as próprias mulheres. “Um homem sexualmente ativo recebe denominações positivas: tigrão, garanhão ou galo. Uma mulher em idêntica situação é galinha ou piranha, animais com menor associação positiva. A língua, reflexo vivo daqueles que a usam, apaga o feminino de forma tão antiga e repetitiva, que achamos que isso é natural e atemporal”, disse Karnal.
 

Kanal lembrou das lutas e das conquistas das mulheres. “Todas foram obtidas exclusivamente pelas mulheres, como foi o caso do direito pelo voto feminino e pela participação da mulher na Política”, comentou.

Atualmente o fator violência contra a mulher é a maior preocupação, segundo Karnal. “Mulheres apanham todos os dias e, quase sempre, a agressão parte do companheiro. Existe uma cultura do estupro que consegue elaborar a frase mais canalha já criada pela nossa espécie: a culpa estaria na insinuação feminina”, disse o historiador.

Apesar das conquistas, muito tem que ser realizado ainda pela igualdade da mulher. “O racismo já é crime inafiançável, embora se condene menos do que se deveria por esse tipo de comportamento inaceitável. Já a incitação à violência contra a mulher infelizmente ainda não é crime da mesma força, é apenas falta de cérebro e de caráter que gera morte, dor e traumas”, lamentou Karnal.


Violência contra a Mulher

Uma mulher é espancada no Brasil a cada 15 segundos.
Uma mulher é assassinada no Brasil a cada hora e meia.
64,9% das agressões são diárias.
63,2% desse tipo de violência são de conjugues.
O número de homicídios de mulheres no Estado de São Paulo em janeiro deste ano foi 120% maior que o registrado no mesmo mês de 2013.
Os registros de estupro em janeiro deste ano saltaram 96%, passando de 26 casos em 2013 para 51 este ano.

Fontes: Secretaria Especial de Política para as Mulheres, Fundação Perseo Abramo e Secretaria de Segurança Pública (SSP).

 

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