De bibliófila a autora – O livro de Ademilde

event_noteAtualizado em: 19/04/2016

Todo bibliófilo sonha ver um dia seu nome na capa de um livro, porém, para realizá-lo, é preciso mais que uma carga generosa de leitura; é preciso habilidade para escrever. E quando isso envolve alinhavar a própria história às de outrem, a exigência aumenta consideravelmente. Para o coordenador-geral da Unicamp, professor Álvaro Crósta, na realização do sonho de se tornar autora, Ademilde Félix Gomes ratifica tal habilidade a ponto de se revelar como uma cronista ao lançar o livro Só podia ser o Christiano e outras histórias do dia a dia da comunidade da Feec. A obra, lançada em 15 de abril, na própria faculdade, reúne histórias vivenciadas pela autora durante 26 anos de trajetória na Feec, antes de ser convidada para assumir a coordenadoria adjunta da Diretoria Geral de Recursos Humanos da Unicamp.

Prestes a completar 50 anos, a Feec recebe a obra como um presente, segundo o diretor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (Feec), José Marcos Travassos Romano. Ao mesmo tempo, Ademilde, que a ela dedicou 26 anos de Universidade, sai da ficha técnica para a capa de um livro.
Com formação em letras pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, mais que revelar aspectos de bastidores, algum romance ou alguma cena cômica inclusive, Ademilde mostra, mesmo sem pretensão, como se deram os avanços científicos e tecnológicos em um dos mais importantes espaços de pesquisa do País.

Detalhes como a máquina de datilografia, a chegada de tantas novas gerações, a comemoração de novas tecnologias, o choro da mãe que deixa a criança na creche pela primeira vez e até mesmo o ambiente amistoso em uma Unicamp ainda jovem denuncia aspectos velocidade da transformação em poucos anos. Para o leitor, talvez mais algumas histórias, mas para Ademilde, uma vida, já que se confundem com sua juventude.“Meu olhar foi atraído pelas histórias que tivessem um fundo cômico, tocante, ou que demonstrassem a sensibilidade das atitudes adotadas pelas pessoas da comunidade da Feec”, explica a autora.

Além da literatura, Ademilde também revela sua apreciação musical e audiovisual. A exploração de trechos de letras musicais, poemas, filmes e repertório de outros escritores denotam suas predileções. “Para enriquecer algumas histórias, faço conexões, comparações e ligações com poemas, músicas, filmes e livros que, com certeza, são amplamente conhecidos pelo grande público”, ressalta.

O livro de Ademilde foi contemplado pelo Edital GGBS 2015, uma iniciativa que permite a concretização de projetos de autoria de servidores da Unicamp.  “Bom que tenha narrado histórias importantes de nossa Universidade”, disse o coordenador-geral do GGBS, Edison Cardoso Lins.

Para o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, o livro revela a participação de Ademilde na vida das pessoas e na Unicamp. Um trecho do livro, no qual registra uma mensagem para a ex-patrulheira Roberta, quando a jovem conquista uma vaga em uma faculdade, é um exemplo da observação do reitor. “Roberta, quando estava na faculdade, na PUC-Campinas, eu era a única mulher negra da classe, assim como no mestrado e no doutorado na Unicamp. Mas só muitos anos mais tarde, percebi e pensei nisso e vi que esse fato nunca foi um impedimento para eu progredir cada vez mais e mais.”

Breve perfil

“Sempre gostei de livros. Também sempre apreciei ouvir das pessoas histórias sobre fatos do dia a dia. E há algum tempo comecei a pensar em juntar essas duas paixões, ou seja, colocar as histórias que as pessoas me contaram em um livro”, declara Ademilde. A história da coordenadora adjunta na Unicamp se inicia em maio de 1986, na Biblioteca Central. O incentivo para procurar um cargo diferente de auxiliar de bibliotecário foi dado pela amigaMarta, que identificou em Ademilde potencial para desenvolver outras atividades. Foi a própria amiga que a indicou o professor Akebo, da Feec, para um avaliação. O teste? Datilografar um texto em máquina elétrica. Alguém da geração Z deve estar se perguntando como seria isso, mas para a década de 1980, era um luxo, e para Ademilde, uma nova história dentro da Universidade.

Sua relação com as letras intensificou-se a partir desse momento, quando lhe foram atribuídas digitações de artigos científicos e teses. Somente aquele ambiente rendeu quatro histórias no livro lançado dia 15: O computador, As meninas, O amor não tem idade e Não solto, não.

Não demorou muito para que outras habilidades sobressaíssem e, desta forma, em1994, recebeu convite de professor Wagner Caradori, então diretor associado da Feec, para trabalhar como secretariar o Departamento de Eletrônica e Microeletrônica (Demic). Em 2002, após passar por um processo seletivo interno à Feec, foi promovida a assistente técnico de unidade e, por isso, fui transferida para a Diretoria. Grande parte das cenas impressas no livro relaciona-se com este período. Afinal, foram quase 15 anos na Direção da faculdade. “É engraçado porque temos alguma coisa mais forte a nos unir, que pode ser traduzida por valores ou cultura local.”

Além das atividades na Feec e na DGRH, Ademilde participa, ao lado de outros profissionais, de várias ações da Universidade, principalmente as que ressaltam a produção e a qualificação de servidores, entre elas o Simpósio de Profissionais da Unicamp, a Revista Saberes Universitários, o Prêmio Paepe e as comissões de avaliação.

Para tantas Robertas, que ainda podem prosperar, seja na Unicamp ou na vida, coordenadora adjunta de RH dá continuidade a sua mensagem: “...Acho que minha posição sempre foi como daquele cachorrinho que queria subir a montanha. Outros bichos o criticavam e diziam que essa subida seria impossível para ele, tamanha seria a dificuldade que enfrentaria. O cachorrinho não ligou para o comentário, dirigiu-se à montanha e começou a subir cada vez mais alto. Os outros bichos gritaram para que ele parasse a escalada, pois aquilo seria impossível para ele. Apesar disso, o cachorrinho chegou ao topo e, nesse momento, foi muito aplaudido por todos, inclusive por aqueles que o criticavam desde o começo. Entretanto, o que nenhum bicho sabia era que o cachorrinho era surdo. Ou seja, às vezes temos que simplesmente seguir em frente e ser surdos diante de críticas infundadas que nos fazem.”  

 

Imagem de capa

3 Comentários

Marli Elisa Nascimento Fernandes

21/04/2016

Parabéns Ademilde pela produção do livro você se torna mais um exemplo de perseverança, diante de tantas desigualdades mas que soube olhar a frente e prosseguir, nosso orgulho. Que Deus continue a abençoa-la para chegar mais além. Abraços Profa. Dra. Marli Fernandes

Lucia Helena Rosolen Alves

20/04/2016

Parabéns pela matéria e mais ainda, parabéns Ademilde pela conquista e sonho realizado. Tenho muito orgulho de você.

Ademilde Félix Gomes

20/04/2016

Excelente texto, maravilhosa homenagem. Não tenho palavras para agradecer à equipe do GGBS.

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