Universidade deve dar resposta a um país em crise, segundo Karnal

event_noteAtualizado em: 28/09/2016


Nós temos que dar resposta a um país que está em crise. A Universidade é chamada a isso neste momento”, enfatiza o professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp Leandro Karnal sobre o futuro da Universidade, minutos antes de iniciar sua palestra no VI Simtec, nesta terça-feira, no Centro de Convenções da Unicamp. “Temos hoje uma universidade que está entre as melhores do Brasil, está bem cotada considerando milhares de instituições do mundo. Temos os problemas estruturais de Estados num país com desigualdades sociais, com problemas graves, porém tive a oportunidade de dar palestra na Medicina, onde tive a emoção de ver o resultado do vestibular de cotas, tanto da primeira quanto da segunda fase. Isso foi para mim quase um presente, vendo um curso de medicina se abrindo dessa forma à diversidade brasileira”, destaca.
 

O momento vivenciado no encontro com alunos e profissionais da área de saúde, na opinião de Karnal, mostra um lado importante da crise. “Uma das coisas boas da crise, uma das coisas boas da polarização política, talvez uma das raras, é que ela nos obriga a dizer cada vez mais para que serve uma universidade pública voltada ao ensino e à pesquisa, a uma relevância social, que é o papel que desempenhamos nisso tudo. Talvez  o surgimento de tantos inimigos da universidade pública vá nos ajudar a ter consciência de nosso papel fundamental para que eles percam cada vez mais o argumento e fiquem cada vez mais imersos em seu próprio ódio.”

Ética no funcionalismo público

Para Karnal, a ética é fundamental na constituição de um corpo profissional, no que diz respeito à iniciativa pública, a atenção a ela se duplica, principalmente porque os servidores públicos – e ele se inclui – precisam não apenas ser éticos, mas ser éticos em relação ao bem público. “Ao contrário do que diz o senso comum – que o público não é de ninguém –, o que é público é todos. Sendo de todos, o cuidado é dobrado. Então, a ética é fundamental para todos os trabalhadores, do operário até o reitor, porém, para nós, funcionários públicos, todos nós que estamos ligados a uma instituição pública, é duplamente importante”, ressalta.
 


Divulgação científica

Na opinião de Karnal, a academia tem obrigação de divulgar resultados de pesquisas em linguagem acessível ao grande público.  “O público precisa também saber a quantas anda essa ciência que pode vir a beneficiá-lo, na medicina, nas ciências sociais, na filosofia, assim por diante. Nós precisamos falar a linguagem do grande público.” O discurso acessível é importante, segundo Karnal, pela própria natureza da Universidade, que tem como preocupação o ensino, a pesquisa e a extensão. “Nós podemos ser muito herméticos, muito técnicos, científicos na pós-graduação e nos laboratórios, mas não temos este direito ao falarmos com o grande público. Nós precisamos sair dessa espécie de redoma que a universidade muitas vezes nos estimulou. Que nós fazemos parte de uma sociedade, uma sociedade complexa com histórias de injustiças que mais do que nunca precisa da ciência”, reforça.
 
A comissão organizadora do VI Simtec recolhe alimentos para uma entidade social de Campinas na entrada das palestras.
 

 

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