​São Paulo, túmulo do samba?

event_noteAtualizado em: 29/09/2016




A ciência se desenvolve a partir de contestações também no campo das humanas, e há sempre alguém interessado em pesquisar riquezas “deixadas nos cantos da vida” que a verdade sobre as origens de certos grupos sociais, movimentos, gêneros musicais reaparece. É assim com a música brasileira. É assim com o samba. Fundamentada em dados reais, a professora Olga von Simson e o grupo Cupinzeiro mostraram na prática parte do patrimônio cultural, muitas vezes escondido, de Campinas e região, quarta-feira, no Centro de Convenções. A atividade encerrou o ciclo de palestras do VI Simtec. E foi com samba de primeira executado pelo Cupinzeiro e uma verdadeira aula sobre a trajetória do gênero no interior paulista que o público e a equipe do evento puderam comemorar a realização de mais uma edição. A palestra contou com a participação do historiador Carlos Roberto Souza, na exibição de imagens relacionadas ao tema.

Túmulo ou memória?

O trabalho de memória sobre o samba paulista que Olga realizou há alguns anos com alunos da Faculdade de Educação, hoje é transmitido por eles a seus alunos em outras instituições de ensino superior onde lecionam e, por meio de rodas de samba e trabalhos acadêmicos, hoje outros jovens podem reconhecer a contribuição de seus ancestrais à cultura brasileira e, especialmente, paulista. “Ao contrário do que disse Vinícius de Morais, São Paulo não é o túmulo da samba. Este Estado é um dos grandes mananciais do samba, porque durante o período da colheita de café, nos séculos 19 e 20, até anos 1930, o número de escravos era muito grande. Como depois de 1950, não se pôde mais trazer escravos diretamente da África, os fazendeiros trouxeram os escravos que estavam sendo liberados do Nordeste.” Com a vinda dos escravos, segundo Olga, o interior paulista teve a riqueza de grande quantidade de “crioulos” (nascidos no Brasil), praticando o samba. “Eles trouxeram a riqueza do samba como patrimônio imaterial muito importante para a região de Campinas”.




Entre os compositores destacados na palestra, estão Adoniran, que nasceu do lado da Unicamp, em Valinhos, e Geraldo Filme, prata do Estado. Além disso,  o samba de roda ainda habita a Fazenda Roseira, reúne o Jongo Dito e revele Urucungos.
De acordo com Olga, o Cupinzeiro é formado por ex-alunos da Unicamp que hoje desenvolvem trabalho de pesquisa importante sobre o samba tradicional. Ela fez a pesquisa baseada no fato de que em sua pesquisa sobre o Carnaval, a maioria dos grandes líderes carnavalescos da cidade de São Paulo tinha nascido no interior. E tinha aprendido a dançar o samba em cidades como Capivari, Piracicaba, Itu, São Roque, Bom Jesus de Pirapora, que é a cidade onde todos se reúnem por conta da festa do Bom Jesus, e várias cidades que valorizam o samba. “Depois que vim para a Unicamp, aproveitei a proximidade dessas cidades para estudar e entender melhor o samba”.




Em Campinas, o samba se concentrou em bairros em que a grande parte da população é formada por negros, como Vila Marieta, Vila Castelo Branco, Ponte Preta, entre outros.

Da umbigada (na língua quimbundo) a Adoniran, Geraldo Filme e tantos outros nomes, Olga e Cupinzeiro fecharam o ciclo com uma riqueza que ficará para a história da edição comemorativa do Simtec nos 50 anos da Unicamp: a cultura brasileira. 

 

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